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EApós alunos da Unicamp denunciarem um professor da instituição de ter os atacado com faca e spray de pimenta, em meio a protestos durante a paralisação da universidade, o boletim de ocorrência policial (BO) aponta os alunos como autores dos crimes e o professor como vítima. A Polícia Civil informou que foram registrados os delitos de lesão corporal e de incitação ao crime contra dois estudantes, e que o caso foi encaminhado ao Juizado Criminal Especial (Jecrim).

No BO do 1º Distrito da Polícia Civil em Campinas, um lado acusa o outro de ter iniciado as agressões. Em seu depoimento, o estudante Gustavo Bispo, diretor do DCE da Unicamp, disse ter sido agarrado pelo braço, agredido com uma "ombrada" no peito, jogado no chão e ameaçado com uma faca. Já o professor, cujo nome não foi divulgado, afirmou que foi ele o derrubado inicialmente e que, a partir de então, usou a faca e o spray de pimenta para se defender. Ele justificou o fato de levar as armas com ele para a universidade a uma ameaça que teria sofrido de estudantes em 2016 — que não são os mesmos da confusão desta terça — na universidade. Procurada, a Unicamp ainda não informou os detalhes do antigo episódio envolvendo o professor e se também houve, na época, alguma investigação sobre o caso por parte da instituição.

No BO, versões se contradizem sobre quem começou a briga

O GLOBO teve acesso ao conteúdo do BO, com declarações do professor, dos dois alunos acusados, de um vigilante da Unicamp e de uma policial militar da patrulha que levou os envolvidos à delegacia. Nos depoimentos, o segurança e a policial dizem apenas que foram acionados por conta de uma briga na universidade e que não testemunharam de fato como a confusão se iniciou.

Tanto o professor quanto os dois alunos dão a mesma versão do início da história, de que os estudantes estavam realizando uma manifestação no prédio quanto o docente chegou para dar sua aula. A partir desse momento, as histórias se contradizem. Aluno de ciências sociais, Gustavo Bispo contou que foi ao encontro do professor para conversarem sobre a paralisação, mas que ele não o deixou falar e apenas disse "saia da minha frente". Em seguida, Bispo relata que o professor o agarrou pelo braço e lhe deu uma "ombrada" no peito que o fez cair no chão. Ele disse, no BO, que não ficou lesionado, mas que o professor investiu contra ele com uma faca, tentando golpeá-lo. Para se defender, ele admite que jogou uma cadeira na direção do professor e saiu correndo. Em entrevista ao GLOBO, Gustavo garantiu que os estudantes apenas passavam nas salas do terceiro andar para informar sobre o movimento de paralisação e que o docente ficou agressivo, sem que tenha havido sequer um bate-boca.

O outro aluno que também gravou vídeo denunciando a situação prestou depoimento e foi acusado de lesão corporal pela Polícia Civil é João Gabriel. Em imagens que circulam nas redes sociais, ele aparece em luta corporal com o professor no corredor do prédio da Unicamp. Na versão do estudante, que cursa filosofia, ele viu seu colega correr na direção do professor para informar da paralisação, mas que não entrou no prédio naquele momento. Ao ouvir uma outra aluna gritando que o docente teria sacado uma arma, e ao ver Bispo saindo correndo, ele se posicionou em uma das saídas do prédio para impedir a fuga, assim como fizeram vários outros alunos no local.

Ele acrescentou ainda que o professor tentou sair justamente pela escada que ele vigiava e que usou spray de pimenta contra ele nesse momento de "fuga". O aluno termina dizendo que então agarrou o professor e o derrubou no chão.

Já o professor disse que, ao entrar na sala de aula, foi surpreendido por um jovem que dizia que não teria a aula e investindo contra ele. Relatou que o jovem o empurrou, fazendo com que caísse no chão, causando lesões no lado esquerdo da cintura. Por isso, afirmou que pegou o spray de pimenta, exibiu a faca e ficou falando "sai, sai", tentando afastar o jovem. Acrescentou que muitos jovens se aglomeraram no seu entorno, o que o deixou com "com medo de ser linchado" e, por isso, usou o spray de defesa.

Depois, o docente narra que os seguranças do campus apareceram e que ele foi levado a uma sala de aula para aguardar a chegada da Polícia Militar. Em seguida, foi levado pelos agentes até a delegacia. O professor disse que possuía a faca (um canivete) e um spray de pimenta porque em 2016 teria sido ameaçado por estudantes e inclusive na época representou judicialmente contra eles. Mas no BO não há mais detalhes sobre o episódio. Ele disse que não conhecia nenhum dos alunos da briga desta terça e que não tinha conhecimento da paralisação.

O caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), por se tratar de um caso com crimes de menor potencial ofensivo. No juizado, será decidido sobre o prosseguimento, ou não, da ação.

Procurado pela reportagem após a informação do BO, Gustavo Bispo rebateu a forma como foi registrada a ocorrência.

— Essa versão dele (professor) é mentirosa — afirmou o estudante, acrescentando que os estudantes também preparam representação judicial contra o docente da Unicamp.

No BO, o vigilante da Unicamp afirmou que foi ao local junto com outros seguranças porque os avisaram sobre a presença de uma pessoa armada no prédio e que, ao chegar no corredor, viu o professor em luta corporal com um aluno. E que os estudantes, no local, contaram que ele havia usado o spray de pimenta. Após imobilizarem o professor, eles acionaram a PM.

A policial militar que prestou o depoimento confirmou que foram acionados pelos seguranças porque "alunos teriam investido contra um professor, que estaria munido de faca e spray de pimenta contra os alunos". Ao chegar no local, o professor já estava trancado na sala de aula.

Por nota, a Unicamp informou que vai abrir um procedimento administrativo para apurar os fatos, porém, não esclareceu se, durante o período de averiguação, o professor continuará trabalhando normalmente. Ele é lotado no Instituto de Matemática Estatística e Ciências da Computação e dá aulas de cálculo.

Aluno diz que foi jogado no chão

"Ele segurou no meu braço, me deu uma 'ombrada', me jogou no chão e puxou um canivete. Tentou me esfaquear. Como as pessoas começaram a gritar, ele se assustou e consegui pegar uma cadeira e atirar na direção dele. Fugi gritando socorro. É inadmissível que um criminoso, racista, seja professor em uma universidade. Queremos prisão imediata pela agressão e por racismo". A declaração é do estudante de ciências sociais da Unicamp, Gustavo Bispo, que neste momento está no 1º Distrito de Polícia Civil de Campinas. Vice-presidente do Diretório Estudantil (DCE) da universidade, que começou hoje uma greve, ele diz que o agressor estaria com um canivete, uma faca na mochila e um spray de pimenta.

Gustavo conta ainda que, ao sair da sala, o professor de cálculo, lotado no Instituto de Matemática Estatística e Ciências da Computação da Unicamp, cujo nome não foi divulgado, se deparou com outro aluno. Ele então teria jogado spray de pimenta neste outro estudante com o qual entrou em luta corporal. Os dois foram separados por seguranças.

— A Unicamp paralisou por conta das privatizações e de falhas na política de permanência da universidade. Foi uma decisão tomada por mais de 20 centros acadêmicos. Nós estávamos passando de sala em sala para conscientizar os estudantes sobre o movimento e, de repente, ele partiu para a agressão. Claramente me escolheu por ser negro, havia outros alunos. Todos os outros eram brancos — diz Gustavo.

Professor é acusado de ameaçar alunos com faca na Unicamp

Professor é acusado de ameaçar alunos com faca na Unicamp

A discussão sobre a greve dos estudantes na Unicamp que acabou em briga foi flagrada por vídeos feitos pelos próprios alunos. O professor foi levado à delegacia, e a Polícia Civil investiga o caso. A reitoria da Unicamp repudiou os "atos de violência" e informou que a conduta do docente será averiguada através de inquérito policial instaurado e por procedimentos administrativos. A instituição informou que não divulgará, por enquanto, o nome do docente.

O aluno Gustavo Bispo, que denunciou a agressão — Foto: Reprodução
O aluno Gustavo Bispo, que denunciou a agressão — Foto: Reprodução

A cena filmada da briga no corredor mostra o momento em que um aluno, no relato dos estudantes, tentava impedir que o professor fugisse. Ele se aproxima do docente que estava num corredor, no terceiro andar do prédio da universidade, e logo começa a se afastar, aparentemente, após jatos de spray. Os dois caminham para uma área aberta com varanda, o que permite que sejam vistos com mais clareza nas imagens gravadas.

O professor, que está com uma mochila nas costas, alcança o aluno e os dois começam a lutar. Em um dos frames das imagens, é possível ver seguranças tentando apartar a briga quando ambos já estão caídos no chão. Em um frame do vídeo, que circula nas redes sociais, um homem, que seria um segurança, consegue retirar um objeto do professor que se assemelha a uma faca. O segundo estudante atacado seria aluno do curso de filosofia, identificado como João Gabriel. Ele também foi prestar depoimento no 1º Distrito da Polícia Civil de Campinas.

Coordenadora-geral do DCE da Unicamp, Valentina Spedine diz que ficou claro que a ação não foi fruto de um incidente:

— O que a gente viu na universidade não foi por acaso. Houve uma agressão continuada. Depois de agredir o Gustavo, ele parte para um outro aluno. Foi para a universidade trabalhar com duas facas e um spray de pimenta.

Cerco para impedir fuga de professor

Após a confusão dentro e fora da sala, vários alunos, entre eles João Gabriel, que estavam mobilizados pela paralisação, tentaram cercar o prédio para que o professor, que foi detido e levado por policiais, não saísse do campus.

— Após um professor levantar uma faca para ameaçar um estudante, os estudantes cercaram o prédio para evitar que ele fugisse. E nesse processo ele atirou spray de pimenta na minha cara. A gente teve que fazer um certo "rola" para conseguir segurar ele, e a segurança o deter — explicou João Gabriel, em outro vídeo, gravado após o término da confusão.

Greve aprovada semana passada

A paralisação desta terça-feira (3) foi aprovada por alunos da Unicamp no dia 28 de setembro. Em nota divulgada pelo DCE, os estudantes afirmaram que a ação é para “exigir contratação de mais professores, o fim das privatizações, mais estrutura, melhores condições de aprendizado para os estudantes e de trabalho para os trabalhadores”. Ainda segundo eles, a precarização da estrutura da universidade foi intensificada pelo atual governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“Na Unicamp, enfrentamos a mesma escassez de contratação de funcionários e professores, um péssimo serviço de alimentação terceirizada — onde os trabalhadores são submetidos a condições de trabalho degradantes, com sobrecarga, desvio de função e assédio moral —. Também lidamos com uma estrutura precária de prédios e cursos, e políticas de permanência estudantil insuficientes”, diz trecho do comunicado.

Isis Mustafá, vice-presidente a UNE, disse que há questões graves relacionadas às condições da Unicamp que mobilizaram os estudantes.

— Estamos preocupados com a política de permanência na Unicamp (para evitar evasão de alunos de baixa renda). Não tem mais vaga de moradia, há uma fila enorme, assim como as bolsas. Além disso, o bandejão fecha nos fins de semana — afirma Isis, acrescentando que a decisão dos estudantes é, a partir de agora, manter a paralisação na Unicamp até que o professor, acusado de agressão, seja exonerado.

Confira a nota da Unicamp

"A Reitoria da Unicamp vem a público repudiar os atos de violência praticados no campus de Barão Geraldo, nesta manhã do dia 03 de outubro. A conduta do docente, para além do inquérito policial instaurado, será averiguada por meio dos procedimentos administrativos adequados e serão tomadas as medidas cabíveis. Ressalte-se, ainda, que a Reitoria vem alertando que a proliferação de atos de violência com justificativa ou motivação política não é salutar para a convivência entre diferentes. É preciso, nesse momento, calma e serenidade para que os conflitos sejam tratados de forma adequada e os problemas, dirimidos".

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