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Brasil convive com dois universos do trabalho opostos

Brasil convive com dois universos do trabalho opostos

O mercado de trabalho no Brasil está atravessando um período especialmente complexo, depois de dois anos de pandemia. No mesmo país em que milhões de trabalhadores disputam um emprego, também tem recrutadores estrangeiros procurando empregados.

Dois universos do trabalho orbitam no Brasil: um deserto, onde vaga à vista é fenômeno raro; e um oásis, com profissionais disputados por empresas brasileiras e estrangeiras.

Dá até para acreditar em unicórnios: uma excepcional espécie de empresa inovadora que antes de abrir capital alcança o valor de mercado de US$ 1 bilhão ou, na nossa língua, mais de R$ 5,5 bilhões.

Em 2021, dez startups viraram unicórnios no Brasil, resultado de um investimento dessas dez empresas sem precedentes no setor de tecnologia: US$ 8,85 bilhões ou mais de R$ 50 bilhões. E o ano nem tinha acabado.

“Quando eu recebo um investimento, o que eu preciso? Aumentar time, aumentar equipe, melhorar produto, vender mais, dar um atendimento mais qualificado. Isso são os respaldos que qualquer investidor espera. Isso é ótimo para a população”, diz Cristiano Soares, diretor-geral da Deel Brasil.

Isso acirrou a disputa por profissionais qualificados. Na América Latina, cresceu 286% o número de contratações de cargos como engenheiro de software e executivo de contas no segundo semestre de 2021.

“Eu não sinto que o setor tecnológico está contratando. Eu sei que ele está contratando, porque, por exemplo, eu hoje de manhã tive cinco entrevistas. Eu estou recrutando mais cinco pessoas para o meu time. Então eu tive mais essas entrevistas de manhã. Amanhã eu tenho mais 10”, conta Lurie Galazzini, gerente de pré-venda

Lurie está numa posição confortável, em que pode escolher onde trabalhar. Parece até uma realidade paralela.

O mundo onde a dona de casa Elizabete Gomes Soares Cruz vive está sob o impacto da saída de uma montadora do país. Camaçari, na Bahia, agora é a cidade onde mais faltam postos de trabalho no Brasil.

“Como nós vamos botar o pão na mesa para os nossos filhos? A gente está vendo no pais cada dia a miséria crescendo, fila na porta de emprego e a informalidade no mercado de trabalho. Como é que o país vai crescer sem renda, sem arrecadação de impostos?”, questiona.

O mesmo país que na América Latina é alvo de recrutadores, abaixo só da Argentina e acima do México. Esse Brasil que fica no topo das contratações ainda é distante para a maior parte da população, que não fala um segundo idioma, especialmente o inglês, e não tem qualificação. Mas os dados mostram vagas abertas em outras áreas, que não só a tecnologia. E já recebemos notícias de profissionais que conseguiram o passaporte para esse Brasil onde as empresas prosperam.

“O meu último trabalho foi com limpeza, instalação e manutenção de climatizadores. Eu trabalhava praticamente o dia inteiro em cima do telhado, no sol, era um serviço bem puxado”, diz Donovan Társis Bicalho Silva, engenheiro de software

Ficar parado na pandemia foi a oportunidade de estudar programação. Antes de terminar o curso, Donovan já tinha vaga nesse mundo novo onde a tecnologia é o ar que a gente respira.

“Meu salário aumentou muito em comparação com o que era antes. Posso dizer que é um salário que eu não esperava ganhar. Ainda mais na minha idade. Então, trabalhar na área de tecnologia hoje é algo que abre portas para você, e você tem oportunidades que você dificilmente tem em outra área”, afirma.

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